sábado, outubro 28, 2006

O Concerto na imprensa

E a revista da imprensa:

Muse no Cotonete

Os Muse actuaram ontem no Campo Pequeno em Lisboa, com o álbum "Black Holes and Revelations" como pretexto para este regresso aos palcos nacionais.

Mas o concerto acabaria por ser mais uma espécie de best of do percurso da banda de Matthew Bellamy (vocalista). Perante um recinto que fazendo jus ao nome, se tornou pequeno para albergar aos fãs do grupo e levou muitos militantes anti-touradas a cometer uma heresia, os Muse deram um espectáculo pensado até ao último pormenor. Sem grandes falas, e sem surpresas, Matthew Bellamy foi a estrela do trio, destacando-se pelos seus já conhecidos dotes musicais e pelo seu estilo arty, contrastante com o ar mais descontraído dos seus parceiros de grupo.

A guitarra serviu de elo de comunicação entre o vocalista e o público, ora objecto de devoção por parte de Bellamy ora funcionando como uma espécie de ceptro real, cada vez que era elevada no ar, para delírio das massas. Foi também ela o símbolo de uma actuação onde o rock estridente e psicadélico - marca dos trabalhos anteriores da banda - ditou o compasso. 'Plug In Baby', 'Hysteria' ou 'Time is Running Out' foram alguns dos exemplos.

O cenário foi outro dos pontos fortes do concerto, criando um espectáculo dentro do espectáculo. A bateria estava colocada dentro de uma espécie de vaso psicadélico amovível, com pontilhados de luzes e pequenos ecrãs. Por detrás o pano preto de fundo servia de tela ampliadora das imagens projectadas. Tudo secundado por um jogo de luzes cuidado, que ajudou a reforçar graficamente as canções, elevando a plateia a outros universos, como aconteceu com 'Starlight'. O segundo single de "Black Holes and Revelations" foi ilustrado por imagens da via láctea e teve direito a apresentação em português, até porque era uma das canções mais aguardadas da noite. Também a robótica 'Supermassive Blackhole' foi recebida com igual entusiasmo, não sem antes o público ter rebentado os balões gigantes transparentes que caíram sobre a plateia.

Ao cenário, temas como 'New Born' e 'Apocalypse Please' acrescentaram um pendor inebriante através da relação piano, guitarra e voz (com os característicos falsetes), da qual Matthew Bellamy foi condutor.

Já no encore, os Muse recuperaram 'Muscle Museum', do primeiro álbum, "Showbiz". Na despedida e em jeito de "show must go on", o grupo saiu do palco envolto em nuvens de fumo branco e deixou que fossem as luzes psicadélicas da plataforma da bateria a encerrar as hostes.

Os Muse confirmaram ontem à noite que bandas já conhecidas, independentemente de percursos discográficos mais ou menos regulares, têm sempre algo a revelar. Hoje o grupo regressa a Espanha, para actuar em Madrid.

Ana Tomás


Muse no JN

É noite de quinta-feira e o povo está entusiasmado os Muse regressam a Portugal para um concerto em nome próprio longe da dispersão de energias dos festivais, na Praça de Touros do Campo Pequeno, em Lisboa..

Os Muse, trio britânico que oscila entre a pop mainstream e o rock independente, seduzem gente suficiente para lotar o espaço. Queixam-se os fãs que o último disco já não é tão bom quanto os anteriores mas não resistem ao apelo da banda de Matthew Ballamy, um rapaz que deixa as mulheres (ainda mais) loucas.

Ninguém se arrepende. O concerto surpreende, inclusive, os mais cépticos. E tudo isto porque os Muse conseguem pegar numa paleta de clichés e criar, mesmo assim, momentos de assinalável interesse. A música é particularmente convincente quando a banda se lança no bombardeamento decibélico de peças como "Plug in baby" ou "Time is running out". Pelo meio ainda houve "Butterflies and Hurricanes" ou "Starlight" e um mosaico de luz e cor constantemente projectado numa espécie de cone luminoso que se abatia sobre o baterista e no qual eram projectadas imagens de manifestações ou nuvens. O final deu-se com "Knights of Cydonia".


Muse no 1º de Janeiro

Mesmo sem touros, houve festa brava no renovado Campo Pequeno, em Lisboa, com os britânicos Muse a pegarem de caras um público entusiasta e em delírio, que nunca deu mostras de cansaço.
Em mais este regresso a Portugal, o Muse traziam na bagagem o seu mais recente trabalho de originais «Black Holes and Revelations», editado em Julho deste ano e álbum que reafirma a qualidade das suas composições. Porém, Matthew Bellamy (voz, guitarra e piano), Chris Wolstenholme (baixo) e Dominic Howard (bateria) – e ainda Morgan Nichols (teclados, samples e guitarra) que os acompanha nas actuações ao vivo – não se ficaram pela apresentação do novo disco, viajando por toda a sua obra, caminho em crescendo como o comprova o facto de os dois últimos álbuns terem chegado a n.º1 no Reino Unido. Outra prova disso era a composição da massa humana que encheu o Campo Pequeno, uma amálgama de públicos de diferentes faixas etárias e estilos.
Do novo «Black Holes e Revelations» e do seu antecessor, «Absolution», saíram a maioria dos temas que compuseram o espectáculo, que teve, para além de toda vibrante vertente sónica, uma componente visual muito cuidada.
«Take a Bow» abriu as hostilidades e mostrou logo a abrir que o público estava ali para participar activamente no concerto, pois foram inúmeros os momentos em que em uníssono acompanharam o vocalista Matthew Bellamy.
E nesse desfiar de história que foi a actuação dos Muse houve momentos de perfeita extâse e delírio colectivos como foram «Muscle Museum», do álbum de estreia «Showbiz», «New Born», de «Origin of Symmetry», «Hysteria», «Time is Running Out» , ou ainda em diversos temas do mais recente disco, tocado por inteiro, como por exemplo, «Invencible», «Starlight», ou «Hoodoo».
Durante uma hora e 40 minutos, o colectivo de Devon presenteou o público com um concerto excelente, apesar de a acústica do recinto ter revelado algumas deficiências e ainda de alguns enganos do baterista Dominic Howard, que teve o seu expoente em «City of Delusion».
A terminar, «Knights of Cydonia»! O momento maior da actuação, com a sala toda a cantar e que acabou por resumir o devaneio musical a que o público esteve exposto, angariando forças para o regresso à dura realidade: “No one’s gonna take me alive/The time has come to make things right/You and I must fight for our rights/You and I must fight to survive”.
Sobrevivamos, então, ajudados pela música enviada pelas musas.

Pedro Vasco Oliveira


Muse no Público

Ontem à noite no Campo Pequeno
Muse: um concerto sideral
27.10.2006 - 14h48 Silvia Pereira PUBLICO.PT



Se a natureza dos buracos negros permanece um mistério, os Muse deram ontem, no Campo Pequeno, uma pista: uma concentração rara de energia, um universo em uníssono, um mundo à parte onde se quer permanecer tanto tempo quanto possível. É que, lá dentro, há canções e imagens capazes de sugar a atenção de todos os viajantes que – não por acaso – ali aterraram.

A sala, esgotada, revelou-se o palco ideal para as alterações de estado de espírito que a música dos Muse contém. Por um lado, foi suficientemente pequena para garantir a dose de intimismo propícia à comunhão entre os fãs e a banda. Por outro, foi suficientemente grande para receber todo o aparato cénico desta digressão (que já se adivinhava pela quantidade de camiões à porta).

O preto e branco inicial do cenário, das roupas e dos instrumentos anunciavam um cinzentismo que não existiu. No palco, construído de forma assimétrica, o que não faltou foi cor: num painel ao fundo, como cenário; nas fitas de luzes em cima, como um avançado; e num polígono com écrãs em todas as faces, que, ao descer, engolia o baterista Dominic Howard.

Tudo isto acessório e tudo isto necessário. Necessário, porque os Muse estão já noutro campeonato. Querem valorizar as músicas e, ao mesmo tempo, dar aos fãs mais do que podiam esperar, garantindo que levam para casa um momento inesquecível. Acessório, porque os Muse já provaram por diversas vezes em palcos portugueses que não precisam de um espectáculo assim para deixar mais uma excelente memória da sua passagem.

Os concertos dos Muse esgotam por causa da música – ainda mais quando existe um álbum novo, "Black Holes and Revelations", que contém algumas das suas melhores canções. Mais: temas como "Take a bow", "Starlight", "Supermassive black hole" ou "Map of the problematique" convivem em brilhante harmonia com os temas mais antigos. Os Muse não se limitaram – nem podiam – a apresentar o novo trabalho. Fizeram uma ronda por canções escolhidas a dedo de entre os álbuns anteriores. Os fãs de sempre puderam deliciar-se com "Time is running out", "Butterflies and hurricanes", "Hysteria" (de "Absolution", 2003), "New born", "Bliss", "Plug in baby" (de "Origin of Symmetry", 2001) e "Muscle museum" (de "Showbiz", 1999), entre muitas outras.

Um universo épico

O imparável vocalista Matthew Ballamy continua a ser o centro gravitacional de todas as emoções geradas pelo "power trio" britânico, pela forma como corre da guitarra para o piano – instrumentos em que é um modesto virtuoso –, pela forma como alterna as poses de astro com um ar desprotegido e, sobretudo, pela forma como canta. A atracção está naquela voz contorcionista, vasta e praticamente infalível, que deixa no final de cada verso ou palavra aquele tremor tão inseguro quanto firme, como se estivesse sempre prestes a mergulhar num precipício mas ficasse preso à superfície.

Só por aqui se percebe a comparação aos Radiohead. Mesmo assim, é cada vez mais difícil encontrar pontos de contacto. Mais depressa os encontraríamos numa banda como os Dream Theater. E mais ainda na música clássica. Mas, se quiseremos comparar, imaginemos então uma mistura de tudo isto: uma voz condenada a viver num cabo das tormentas, um rock de guitarras rasgadas, apontamentos de electrónica e toques sinfónicos (Bellamy teve formação clássica). O resultado é uma música absolutamente épica – como este concerto.

"Knights of Cydonia" é o último tema. A banda sai de palco sem encore. O grande polígono aterra, as luzes apagam-se, o fumo dissipa-se e, de repente, há pessoal da segurança a pedir para abandonar o recinto. Tarefa complicada, esta de voltar à terra quando o corpo ainda está de olhar no palco, esperançoso e siderado, a pedir mais uma voltinha no universo Muse


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Se souberem de mais avisem :)

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