Agora vê-se uma sala

Vi no blog da minha mana e gostei... decidi postar aqui...
e fiquei depois a saber que foi ela propria que escreveu, para o caso de se estarem a perguntar quem escreveu coisa tão bela!




Agora vê-se uma sala.

Dir-se-ia uma sala de espera.

Ele senta-se e ela dirige-se à janela. Encosta-se à portada.

Não se vê ninguém. A sala está vazia.

Ele está sentado e fuma. Ela continua a olhar o redor, como se ele não estivesse presente. Como se tudo faltasse acontecer.

Ele levanta-se e dirige-se a ela. Ajuda-a a abrir a janela. Ela não se move. Ele não olha pela janela. Ele não deixa de olhar para ela.

Sente-se medo nela. Sente-se medo.

E ele sabe disto.

O sol põe-se como num dia de outono. Incendiado sobre a paisagem.


Ela parece chorar. Não se sabe. Ninguém sabe. E ele olha para ela. Continuamente. Ele é isso.
Esses olhos fixos como um mundo fechado sobre a presença dela.

Poder-se-á pensar que ela o usa.

A cena pode ver-se de fora. À distância, desde o início.

Poder-se-á tratar de uma história de amor. Dizer que eles se amam. Que não esperam mais nada. Que aquela sala não existe. Que nunca aconteceu espera nenhuma. Nunca se viu nenhum redor. Que não existiu aqui lugar-onde. Nada.