terça-feira, dezembro 20, 2005

Used Words

(imagem: I have lost You, I have lost You, can´t reach You anymore...
JAN SAUDEK)

Com palavras usadas,
gastas pelo tempo e pelo hábito,
cujo último tremor já não se sente.

Com palavras, como sonhos, queimadas pela vida,
nesta noite de chuva falo contigo,
tento falar pelo menos, ligeiramente ébrio,
construo cada sílaba no país de jamais.

E sinto essa repentina lucidez
com a qual, de súbito, quebramos a rotina de sermos e de conhecermo-nos,
sinto, digo, essa estranha sensação, distante e esvaída,
do whisky, da noite e do silêncio,
do entusiasmado desespero com que aceitamos a derrota,
dessa vertigem, às vezes, só às vezes, tua e minha,
em que morremos a sorrir com os olhos abertos.

Sinto o pouco que é um beijo no fundo da tua língua,
ou os teus olhos a olharem-se nos meus,
ou as nossas mão unidas no ar,
a percorrer um museu de admitidos fracassos.

Desfilam, batalhão desolado de fantasmas,
nomes e nomes com eco diferente.
Pretendemos, com abolidos rostos, prazos caducados, cidades impossíveis,
responder a uma velha pergunta
cuja resposta só a morte conhece já.

Anos e anos, voluntários exílios de seres e países.,
os filhos que não quis ter, os que tu tiveste,
o tremor do desejo que guardas ainda na tua pele,
o meu repetido navegar de cama em cama
reunem-se e afirmam o seu destino
diante da cerimónia do amanhecer.

E sabemos tudo e está escrito nos teus olhos,
hoje, contudo, neste dia com sol -tão raro em Bogotá-
de finais de julho, de um ano qualquer,
proponho-te o meu amor, sei que aceitarás,
com palavras usadas proponho-te mentirmo-nos.

Já passada a noite, quietos diante do espelho,
enquanto faço a barba e tu pintas os lábios,
proponho-te o meu amor, dizer que nos amamos.

Dizer-te são apenas exemplos- "hoje existe a vida para nós"
ou "tu não morrerás nunca"
ou, talvez, "ainda há noites e noites que esperam
os nossos braços, esse especial calor de dormirmos abraçados".

Esquecendo, tentando esquecer o nosso passado,
ignorando o futuro sem dúvida inalcançável,
com palavras gastas dizer e repetir
-é outro exemplo- "obrigado meu amor por teres existido".

Ao menos por um momento -não incomodamos ninguém-
com palavras usadas mentirmo-nos e mentirmo-nos,
mentirmo-nos contra o tempo, desprezar a sua vitória.

Envio:
Deixo-te este poema
confuso, absurdo, comprido,
para que tu o estendas como um lenço velho
aos pés da tua cama, para que tu o tenhas,
e um dia o encontres, confuso, absurdo, comprido,
num dia como este-quando já não estivermos-,
e recordes, debaixo do duche,
que uma vez te amei -mentiras e mentiras-,
que uma vez te amei -era um dia de julho-,
com palavras usadas como um disco riscado,
que recordes, meu amor, esta letra de tango.

Juan Luis Panero

5 comentários:

Anónimo disse...

Olá bom dia... Se cá não voltar antes, desejo-te um Feliz Natal e que o PAi Natal venha cheio de prendinhas... Depois que entres com o pé direito no novo ano, que tudo corra bem, melhor ainda que este ano que está quase a passar...

Beijinhos

Cristina

Anónimo disse...

Será ousadia a mais a dizer q soa a quem está apaixonado e ao reencontro de uma nova fase na vida..espero q a minha ousadia esteja certa e q este novo caminho q abra novas portas e dê um novo sentido à vida ! bjinhos..,bjs ..,

Night disse...

Por mais que se tente negar, ha coisas que estao a vista de toda a gente, se é que me entendes :P desejo-te um feliz natal e um 2006 xeio de alegrias, que os teus sonhos se realizem neste novo ano, um grande abraço amigo ;)

Sol disse...

Não podia de deixar de vir dar um beijinho...

Feliz Natal


;) espero q a vida te sorria e no q depender de nos nunca te faltaram eclipses...

;) beijinho

Muse disse...

obrigado a todos voces pelas vossas palavras...

Qto a ousadias e coisas q saltam à vista não faço comentários!!! ;p

E espero andar por aqui mto tempo para ver os eclipses!!!

:)